Daniel Carvalho - Web Designer

Compartilhando Conhecimentos

O que é Design?

Muito se discute sobre a suposta etimologia do termo design, entretanto ela surge em nosso cotidiano quase como um vocábulo coringa que agrupa e dá status a atividades que a princípio não tem necessariamente relações diretas com a palavra.



Neste artigo, pretendese desmistificar a origem e aplicação do termo a fim de

ampliar a capacidade de aglutinar conhecimentos específicos sobre o tema, de modo que o leitor seja capaz de desenvolver seu entendimento de modo livre a partir de dados científicos e acadêmicos.



Partiremos da convenção de que a tradução mais aceita para a palavra design é o termo desenho industrial, considerando os postulados estéticos de Kant e as análises dos empiristas ingleses sobre a beleza e a funcionalidade (DORFLES, 2002), endossados pela nomenclatura atribuída aos cursos de formação de nível superior pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) no Brasil desde o tempo da ESDIRJ até os dias de hoje.



A ICSDI (Internacional Council of Societies of Industrial Design), entidade fundada em 1957, em Paris, que reúne sociedades e associações profissionais em todo o mundo, dedicadas a promover o desenvolvimento da sociedade industrial, discrimina o termo desenho industrial como vemos no texto a seguir:

.



"Desenho Industrial é uma atividade no extenso campo da

inovação tecnológica, uma disciplina envolvida nos processos de

desenvolvimento de produtos, ligada a questões de uso, produção,

mercado, utilidade e qualidade formal ou estética dos produtos".

(ICSDI apud CUNHA, 2000)


.



Segundo o autor italiano Gillo Dorfles, o design surgiu como o que conhecemos hoje por Desenho Industrial a partir da Revolução Industrial, a partir da necessidade da produção industrial para suprir a demanda dos grandes centros urbanos em expansão. O surgimento foi alavancado com invenções como a máquina a vapor de James Watt em 1776 e o tear mecânico de Edmond Cartwright em 1785 que possibilitariam a produção em série.



Máquina a vapor de James Watt de 1776.



Tear mecânico de Edmond Cartwright de 1785.



Segundo o mesmo autor, desde o início, o design é produzido por meios mecânicos, em série e por meio de uma atividade projetual, diferenciandoo

de outras atividades como o artesanato, por exemplo, que é produzido manualmente, resultando em peças únicas e para suprir a ausência da atividade projetual presente no design, transforma possíveis erros

na produção em adornos.



O design possui atualmente no Brasil e no mundo, diversas ramificações, dentre elas o design gráfico que compreende a comunicação e programação de espaços visuais bidimensionais visando à impressão, o design de produtos que tem por objetivo o desenvolvimento de projetos de produtos e utensílios, o design de embalagens que mescla características das duas anteriores e o design multimídia que é voltado para ambientes digitais como a web, jogos, televisão entre outros.



O deputado Eduardo Paes, em seu projeto de lei n° 2.621 de 2003 para

regulamentação da profissão de desenhista industrial, afirma que:

 .
“ Art.1º Desenhista industrial é todo aquele que desempenha

atividade especializada de caráter técnicocientífico, criativo e artístico, com vistas à concepção e desenvolvimento de projetos de objetos e mensagens visuais que equacionam sistematicamente dados ergonômicos, tecnológicos, econômicos, sociais, culturais e estéticos que atendam concretamente às necessidades humanas.”

“ Parágrafo único Os projetos de desenhista industrial são aptos à seriação ou industrialização que mantenha relação como ser humano quanto ao uso ou percepção, de modo a atender necessidades materiais e de informação visual.”

.



O MEC classifica o desenho industrial como ciência social aplicada, ou seja, a área abriga as ciências cujos conhecimentos impactam na vida humana do ponto de vista coletivo.

O aproveitamento do desenho industrial como ciência social aplicada, está atrelado a outras áreas especificas do conhecimento distendendose

de forma multidisciplinar.



Design não é arte, não é artesanato, não é publicidade, não é arquitetura e nem informática. Apesar dessa muldisciplinaridade, o design prevalece como uma ciência autônoma que se faz valer da tecnologia e de outros aspectos em comum como, por exemplo, as ferramentas gráficas da informática, a influência e relações com os períodos históricos artísticos ou das pesquisas e fundamentações do marketing.



O design é uma ciência relativamente nova que promove relações com outras

ciências, talvez essa seja uma das dificuldades em rotulálo de forma eficaz e indiscutível e até mesmo regulamentálo como uma profissão soberana e autônoma. No Brasil, a maioria dos grandes projetos é oriunda de países com um maior desenvolvimento e encomendados pelas empresas multinacionais, que detêm grandes parcelas do setor industrial.



Sobre a atividade projetual do design, Rafael C. Denis afirma que o termo design carrega uma ambigüidade em seu sentido no qual há um desdobramento entre opostos.

Ao mesmo tempo em que compreende o ato abstrato de designar, criar e conceber, o design também abrange o desenho, as especificações e o registro das idéias de um modo concreto resultando naquilo que ele define como projeto.



Vale á pena salientar que muitos acreditam que a palavra “desenho” tem essa

mesma dualidade, sendo autosuficiente como tradução do termo original inglês. Wilton Azevedo, professor e designer gráfico brasileiro, apresenta um ponto muito interessante quando diferencia a arte do design por meio de seu caráter de intencionalidade de reprodução em série, talvez porque o caráter projetual (tão abordado até aqui) está presente em ambos.



Sendo assim, afinal, o que é design?

Não irei fazer nenhuma conclusão que poderia ter uma conotação simplista sobre o termo, pois sinceramente espero que essas definições complementem e abra caminho para novas pesquisas propiciando que o design possa atingir novos patamares como ciência, evoluindo e se inovando com o tempo.

No Brasil há uma carência e certa aversão à complementação teórica, sobretudo no design, que por muitos ainda é visto como o simples ato de manipular imagens ou uma arte decorativa.





Bibliografia



AZEVEDO, Wilton. O que é Design. São Paulo. Ed. Brasiliense, 1998.

CUNHA, Frederico Carlos da. A Proteção Legal do Design: Propriedade Industrial. Rio de Janeiro. Editora Lucerna, 2000.

DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. SP. Ed. Edgard Blücher,2000.

DORFLES, Gillo. O Design Industrial e a sua estética. SP. Ed. Presença, 1991.

DORFLES, Gillo. Introdução ao Desenho Industrial. Lisboa. Edições 70, 2002.

HESKETT, John. Desenho Industrial. Rio de Janeiro. Ed. José Olímpio / UNB, 1997.

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